quinta-feira, 25 de junho de 2009

Roger Federer leu meu texto


Antes de começar a ler, meu leitor, devo lhe dizer que este título é uma mentira. Obviamente, o grande tenista Roger Federer jamais leu algo escrito por esta jovem. Mas essa foi uma frase que eu tenho repetido bastante para meus amigos. Eis o ocorrido: há algumas semanas, postei no blog de minha sala de Jornalismo na ECA um texto chamado “O tenista decadente”. Nele, falava sobre a má fase de Federer e dos sinais que ele dava que sua carreira estava indo ladeira abaixo.

No entanto, logo depois de minha contundente opinião, o suíço se atreveu a desconstruir cada uma de minhas críticas. De tabela, fez com que eu refletisse bastante sobre a opinião no jornalismo esportivo. Para situá-los melhor, tomo a liberdade de reproduzir o início de uma matéria recente de Fernando Itokazu para a Folha:

O dia, 11 de maio de 2009.
Tudo parecia conspirar contra o suíço Roger Federer.
Ainda sem títulos no ano, o número dois do mundo assistia ao líder do ranking, Rafael Nadal, dominar a temporada de saibro com a chance de aumentar a confortável vantagem na lista da ATP no Masters 1000 de Madri.

22 de junho e 2009. Tudo está a favor do suíço.
Após ganhar o principal título do saibro, Roland Garros, Federer poderá reassumir o topo do ranking graças à ausência do tenista espanhol em Wimbledon, que começa hoje [dia 22].

Você pode pensar que minha reação a isso tudo foi bater a cabeça na parede e lamentar minha irresponsabilidade de ser tão taxativa quando se trata de alguém significativo como Federer. No entanto, fiquei até orgulhosa de mim ao lembrar que Paulo Vinicius Coelho, um dos meus ídolos do jornalismo esportivo, havia cometido o mesmo “erro” no ano passado. O São Paulo estava mal na tabela do Brasileirão e PVC não hesitou em sua coluna: “Este time não será campeão desta vez”. Quebrou a cara. Sua resposta às centenas de gozações dos são-paulinos foi simples. “Fiz um prognóstico de acordo com o que via. Ele não se confirmou. Mas, quando escrevi aquela coluna, queria que ela tivesse opinião. E ela tinha”, disse o jornalista em seu programa na TV paga.

Em 11 de maio, eu fiz uma leitura do que enxergava no tênis há algum tempo e disse a mim mesma que era preciso ter coragem de dizer aquilo daquela forma, assumindo as consequências do que ocorresse depois. Aqui chegamos num ponto delicado do jornalismo: vale a pena arriscar uma opinião polêmica, mesmo com o risco de que ela seja “desmentida” depois? Afinal de contas, aquele meu texto parece peça de museu se for lido atualmente.

Porém, será que isso é um problema também? Textos jornalísticos lidam com o dia-a-dia, com novos fatos e personagens que surgem a cada momento. Se tivéssemos a preocupação de que o que escrevêssemos fosse eterno, embarcaríamos numa missão praticamente impossível. Uma saída talvez fosse contar apenas com o passado e o presente para o jornalismo, ou seja, com o relato. Mas eu acredito que é possível e mais corajoso ir além e tentar imaginar um futuro possível, mesmo sabendo que tudo é uma caixinha de surpresas, principalmente no esporte. Estamos num mundo em que a crônica esportiva está cheia de “comentaristas de resultado”, que só falam a respeito do que já aconteceu. Será que não é possível assumir mais riscos? Certa ou errada, deixo minha modéstia de lado. Ainda prefiro o meu texto desmentido.

3 comentários:

  1. Texto ótimo, só pra variar.
    Concordo, acho que alguém que vá comentar tem que dar a cara pra bater mesmo. Claro, baseando-se em fatos/números/coisasdotipo que façam sentido.

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  2. She, adorei a reflexão. É isso aí.
    Odeio a idéia de jornalista "invisível", que tenta se apagar do texto. Jornalista tem que se mostrar no texto, e os leitores, tenho certeza, gostam de ler alguém que sabem que é crítico e tem auto-confiança o bastante pra arriscar.
    Que diferença alguém que só reproduziu o fato fez?
    Beijos

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