quarta-feira, 13 de maio de 2009

O tenista decadente

O mundo do esporte não acreditava no que acontecia. Roger Federer, visto por muitos como o melhor tenista da história, considerado imbatível, insuperável, gênio, uma lenda, chorou. Chorou copiosamente. Tentou falar diversas vezes, mas engasgava nas próprias lágrimas. Quem estava em volta não sabia o que fazer, se aplaudia, se consolava, e acabaram ficando todos quietos, admirando o "mito" do tênis desabando diante das câmeras, do adversário e de todos que assistiam. Nesse momento, ele confirmou o que se especulava há muito tempo: estava em franca decadência.

Ele chorava, pois havia acabado de perder a final do Aberto da Austrália, um dos mais importantes torneios de tênis, no começo deste ano. Federer já ganhou esse campeonato três vezes, então não eram exatamente pela derrota as suas lágrimas. Ele perdeu para Rafael Nadal, um espanhol de 22 anos muito talentoso, alguém com quem ele já jogara diversas vezes. Portanto, não era um choro de surpresa. Muito pelo contrário, porque Nadal venceu a maioria dos jogos em que enfrentou o tenista suíço. A última vez que haviam se encontrado foi em Londres, em julho de 2008, no torneio de Wimbledon, em uma partida considerada uma das melhores da história do esporte. Essa vitória de Nadal foi sim surpreendente, pois o piso do torneio é a grama, local em que Federer quase nunca perdera em sua carreira, até aquele dia. O suíço saiu de quadra desolado, sem chão, mas esperançoso, porque ainda era o "número 1 do mundo". Menos de um mês depois, ele teve que passar essa "coroa" para o espanhol.

Quando Nadal surgiu, em 2004, arrasador, principalmente no piso do saibro, eu duvidei de que ele seria uma grande oponente à "lenda". Era forte e extremamente concentrado, mas Federer era mais talentoso, igualmente "focado" e forte, e joga tênis com a facilidade com que eu jogo truco. Enquanto o espanhol colecionava todos os títulos na terra batida (ele nunca perdeu um jogo sequer em Roland Garros), Federer reinava na quadra dura e na grama, e não demonstrava muita preocupação com os outros tenistas. Seu maior adversário eram os recordes de Pete Sampras. Os franceses que compareceram à quadra central de Roland Garros em 2008 esperavam uma longa partida, como era comum entre os dois. Mas viram uma humilhante lavada, em que Nadal parecia dar aulas de tênis a um juvenil. O último set teve o placar de 6 x 0. Mas o gênio ainda não se preocupava, pois estavam jogando no saibro, logo depois eles jogariam Wimbledon e o troco seria dado. A final do Grand Slam inglês mostrou que ele não poderia estar mais enganado. Depois daquele dia em Londres, ele continuou chegando a finais e conquistou o Aberto dos EUA, mas o que se via era "apenas" um excelente tenista, o gênio havia morrido na grama londrina.

Após Nadal superá-lo no ranking e abrir enorme vantagem, a última esperança do suíço era a quadra dura australiana. Outra derrota, e não havia espaço para o riso sem graça, para a sua costumeira elegância: o seu semblante era a mais pura tristeza, e uma enorme sensação de impotência. Ele talvez não sabia por que chorava. Ainda mais pela declaração que deu após a final: "Em um quinto set, tudo pode acontecer. Esse é o problema. Nem sempre o melhor jogador vence. É uma questão de momento, às vezes”. Obviamente, ele ainda se achava melhor do que Nadal. Mas não era, não é há muito tempo. Pensando bem, essa frase revela o porquê de sua queda: a incapacidade de admitir que alguém é capaz de superá-lo. O que o espanhol fez após essas três vitórias que citei? Disse que era uma honra poder dividir a quadra com o seu ídolo. Percebeu a diferença?

Claro que Federer ainda é um grande tenista, que pode ganhar muitos outros títulos, inclusive superar os números de Sampras. Todos os tenistas, exceto Nadal, dariam tudo o que têm para estarem em seu lugar, e contarem com seu prestígio. Mas os jornalistas em geral têm pavor de falar que o espanhol tornou-se melhor, e o suíço está em decadência. Para mim, isso é mais que evidente. O decadente tenta negar sua queda como pode, procura desculpas para suas derrotas, seu orgulho o cega a ponto de achar que a vitória do outro se deve apenas aos seus próprios erros. Federer nunca foi deselegante, mas tampouco tentou adaptar seu jogo às novas circunstâncias, esperando a queda de seus oponentes. Agora é tarde demais. Enquanto isso, o outro campeão trabalha, quieto, humilde, a cada dia calando os que duvidaram de sua capacidade de se superar (como eu). Por isso, dificilmente veremos o seu choro: ele sabe como poucos a sensação de ter que se provar a todo momento.

7 comentários:

  1. Estou em dúvida se cometi um erro de português ali no meio do texto... Se alguém perceber, avisa.
    She

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  2. Sheilá, bota aí nas tags qual é o gênero e seu nome também, pra eu te colocar nos autores.

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  3. Adorei! Finalmente alguém falou sobre isso... Também acompanho bastante o tênis (nem sempre por minha vontade, minha família é meio fanática pelo esporte e fui acompanhando...), e você descreveu muito bem esse cenário! Mandou bem She! E sim, o Nadal é um monstro na quadra...

    Ah, e, temos que testar essas habilidades todas no truco então! hehehe

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  4. nããããããããããããããããão!!! é mentira!!! o federer é melhor que o nadal hahahah
    mandou bem sheiloka

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  5. Muito legal! Texto bem encadeado, abordagem cuidadosa.
    Nancy

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  6. O DECADENTE ME DESMENTIU!
    Olha só! Venceu o Nadal hoje no saibro!!!
    Obviamente, o Nadal tava beeeeem cansado depois da maratona ontem contra o Djokovic, mas isso não tira nem um pouco os méritos do Federer.
    Confesso que torci pra ele no jogo... Até porque Roland Garros está muito sem graça nos últimos anos. Tem o Djokovic, Murray... Adoro! :D

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