domingo, 10 de maio de 2009

Simplesmente Conhecidos

As pessoas do nosso cotidiano estão dispostas em grupos. O grupo da família, dos amigos, grupos de uma pessoa só ou de várias. Nenhum deles, no entanto, será tão grande, plural, instigante e comprometedor quanto o indefinido grupo dos "conhecidos". Nele se encontra os "bons conhecidos" (amigos em potencial, pessoas interessantes em geral, ex-namorados pacíficos), os "maus conhecidos" (desafetos do passado, pessoas desagradáveis, ex-namorados belicosos), e os... "simplesmente conhecidos". Não poderia haver subcategoria pior por sua indeterminação.

Tentemos, no entanto, determiná-los. Os "simplesmente conhecidos" são pessoas das quais você não se lembra da existência até que seus caminhos se cruzem e ambos não saibam direito o que fazer. Um aceno de leve ou beijinho de bochecha? Esse é o menor dos dilemas, se ambos seguem imediatamente os seus respectivos caminhos. Mas não será o único, já que o instinto de socialização de algum dos dois vai prevalecer e essa pessoa vai perguntar "E aí?" em uma situação em que a única resposta é "E aí nada, cara". Resposta nunca dita, lógico. Sempre é mais fácil enredar-se num assunto suicida, como "o céu tá feio!" e arranjar logo uma coisa urgente pra fazer.

Claro que estou falando de situações implicitamente convencionadas. Mas eu, particularmente, não gosto de convenções. O que me leva à minha constrangedora história de dois "simplesmente conhecidos" (categoria que, freqüentemente, engloba ex-namorados de suas amigas) que prefeririam fazer qualquer outra coisa que não a simplesmente conhecida conversa bamba de conhecidos.

Estava voltando para casa, de pé no ônibus, cansada de mais um dia de faculdade e tentando aplacar isso ouvindo música no último volume. Minha infalível visão periférica feminina intercepta a existência de um "simplesmente conhecido", mas não qualquer um: o que pegará dois ônibus com você, pois mora próximo à sua casa. Uma hora e meia de puro constrangimento e boletim meteorológico. Nunca, jamais! É hora de fazer a coisa mais simples a ser feita: se ele não viu que você o viu, mantenha seu olhar em um campo que exclua o indivíduo e torça pra ele não vir falar com você. Dito e feito. Ele não veio falar comigo. Que isso dure pelo menos durante o primeiro ônibus.

Minha infalível visão periférica, então, repara que o campo de visão do sujeito também está meio... restrito. Voilà! "Ele está usando meus métodos!", pensei, sentindo-me aliviada pela incrível sintonia que havia encontrado com meu "simplesmente conhecido". Ele também não queria ser perturbado. Estava óbvio. Ficou mais óbvio ainda quando, ao descermos do ônibus (lado a lado, cada qual restringindo estupidamente seu próprio campo de visão), ele disparou com passo apertado ao outro ponto de ônibus. Para retribuir a bondade, comecei a passear tranquilamente ao destino comum, sem medo de perder o ônibus ("Tomara que eu perca o ônibus!").

No meio do caminho, contudo, percebo que meu amigo da arte de ignorar para, dá uma rápida olhadinha pra trás (na minha direção) e desiste de andar velozmente. Por certo, deve ter percebido que eu iria, de fato, para o mesmo lugar que ele. Ou que o ônibus não estava na iminência de passar e, portanto, não deveria apressar-se para não perdê-lo. Preferi acreditar na primeira possibilidade, que tanto aproximava-me em intenções do meu conhecido. Essa possibilidade dava-me coragem de ser sincera e falar "Oi, você sabe que nossas conversas são dispensáveis, estou cansada e quero só ouvir minha música".

Quando cheguei ao ponto de ônibus, nossos dois sorrisinhos constrangidos e cansados encontraram-se. Estava sentindo-me uma salvadora da pátria ao proferir aquelas palavras odiosas, mas que encaixavam-se nesse jogo pré-estabelecido. Na minha cabeça. Sim, pois a cara que ele fez não foi de alívio. Foi de alguma coisa negativa que não saberia dizer. Talvez estivesse ofendido. Com certeza estava ofendido, como pude dizer coisas tão estúpidas?! Senti um pouco de raiva de mim mesma, mas depois raiva dele. Eu sei que ele não estaria mais feliz com a nossa conversa sobre a comida do bandejão. Vaidoso.

Estava tudo péssimo. Mas estava tudo ótimo. Agora ele configurava a lista dos "maus conhecidos". Sabe, aqueles? Aqueles desafetos do passado, pessoas desagradáveis, ex-namorados belicosos, ex-namorados de amigas que aparentemente não querem conversa com você mas ficam ofendidos quando você manifesta que prefere ficar calada. Aqueles. Aqueles que, assim como os "simplesmente conhecidos", me fazem aumentar o som e esquecê-los em três... Dois... Um.

5 comentários:

  1. Crônica bem estruturada, texto sensível.

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  2. Aflição de uma Anti-Social...

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  3. deixando claro, esse bruno não sou eu, bruno da sala hahaha

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  4. então assina diferente, Bruno F...avaro!

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  5. Ah, eu sei, fofuxo! É de um amigo meu pra quem eu tinha mostrado um pedaço... E imaginei que era ele, não é muito sua cara sair comentando por aí huahuahau

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